Nos Eixos #1 — O futuro é dobrável?

Oi, aqui é o Victor e a primeira edição da Nos Eixos está finalmente entre nós! Após uma relativamente breve introdução na publicação zero (que você pode conferir abaixo), agora é pra valer: a saga para manter uma newsletter semanal começou.

A edição de número um precisou ser adiada porque ontem eu tive que lidar com a morte muito inesperada de uma das gatinhas daqui de casa. Maria vivia grudada com a minha mãe e a perda dela é monumental para toda a família. Vai ser estranho entrar no quarto dos meus pais e não vê-la dormindo na cama, não ouvi-la miando para eu colocar ração no pote ou não tendo sua companhia na mesa durante o almoço pedindo um pedaço de carne com a patinha. Em sua memória, a Nos Eixos #1.

Eixo X: alguns destaques da semana.

É impossível eu não começar pelo Phantom X2. O celular da Tecno é como uma ilusão de ótica: meus olhos enxergam uma coisa, mas meu cérebro interpreta outra.

Ele tem um gigantesco módulo de câmera não-sei-quantas-vezes maior que o iPhone 14 Pro e quanto mais eu vejo a traseira do celular, mais estranho ele fica.

A Tecno justifica a existência desse absurdo destacando a câmera zoom que se projeta para fora do corpo. Isso permite que as lentes internas ganhem mais espaço e criem um desfoque mais natural para o modo retrato, sem depender de software para criar o efeito bokeh.

Mas isso é exclusivo do Phantom X2 Pro — que tem um anel ao redor da lente pop-up. O Phantom X2 mantém o enorme módulo de câmera, mas sem lente pop-up e com sensores menos potentes.

Falei sobre a dupla no Canaltech.

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O Apple Music vai virar karaokê | Apple

Quando comentei a chegada do Apple Music Sing no Twitter e quando postei o mesmo vídeo demonstrando o recurso no TikTok não esperava tantos comentários. Eu subestimei o karaokê do Apple Music.

Em uma época do ano onde voltaremos a nos reencontrar com familiares e amigos depois de meses sem ver uns aos outros, a funcionalidade vai animar muitas festas e encontros a partir de agora. E acho que por isso tanta gente tem considerado abandonar o Spotify e migrar para o streaming da Apple.

@chamavito

Apple Music Sing no iOS 16.2 transforma qualquer música em karaokê! #Apple #AppleMusic #AppleMusicSing #karaoke #iOS #iOS16 #iostips #viral #fyp

♬ som original – Victor Carvalho

O Apple Music Sing precisa do iOS 16.2 instalado (e já pode ser baixado), mas nem todos os celulares serão compatíveis. A Apple disse ao TechCrunch que apenas dispositivos com processador A13 Bionic ou mais recente vão suportar o recurso.

Imagino que a redução dos vocais aconteça no processador e por isso dependa de um modelo mais recente para funcionar bem. A Apple avisa que o controle “não remove totalmente os vocais” e isso pode estar relacionado ao isolamento automático feito no chip.

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O anúncio dos indicados ao Globo de Ouro aconteceu ontem. A premiação será em menos de um mês, na noite do dia 10 de janeiro.

Fiquei muito mais animado entre as séries: RupturaBlack Bird e A Casa do Dragão marcando presença nas principais categorias, Diego Luna tendo o reconhecimento merecido por Andor (uma das minhas séries favoritas de 2022), Only Murders in the Building em várias categorias de comédia ao lado da maravilhosa Hacks e, é claro, The White Lotus (que infelizmente só assisti ao primeiro episódio dessa segunda temporada) como destaque em série antológica.

Entre os filmes, confesso que pouca coisa me animou. Avatar: O Caminho da ÁguaOs Banshees de InisherinMarcel the Shell with Shoes On e Pinóquio de Guillermo del Toro são basicamente as únicas produções que têm minha torcida. E ainda não vi nenhuma, mesmo aquelas que já estão em streaming.

Confesso que Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo não me conquistou do jeito que eu esperava (acho que coloquei muita expectativa) e quanto à The Bear, ainda preciso assistir (sei que muita gente amou).

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Elden Ring venceu o prêmio de Jogo do Ano no The Game Awards 2022 (continuo me arrependendo de tê-lo comprado achando que um jogo do tipo souls fosse me conquistar — não conquistou), e o único game premiado que eu realmente comecei e terminei, As Dusk Falls, venceu a categoria Games for Impact (e recomendo muito). Fiquei feliz pelos prêmios do fofíssimo Stray, o icônico jogo do gato em uma cidade futurista.

Alguns anúncios e trailers do TGA me deixaram mais animados para finalmente comprar um console de última geração depois de dois anos da estreia da: Death Stranding 2 (mesmo ainda não tendo jogado o primeiro) e Star Wars Jedi: Survivor (devorei o Jedi: Fallen Order a 30 fps — às vezes menos — no Xbox One e tenho um carinho enorme por aquele jogo).

Uma nova DLC de Dead Cells foi anunciada e confirmou o crossover com Castlevania. E o belíssimo trailer de Replaced (anunciado ano passado) me deixou curioso pela estética 2.5D em pixelart, já que desde 2017 (!) espero uma atualização sobre The Last Night.

E mais:

A HBO vai remover Westworld do streaming — provando mais uma vez que a fusão entre Warner Bros. e Discovery foi um dos piores acontecimentos no mundo do entretenimento.

Os novos Xiaomi 13 e 13 Pro foram anunciados. A Huawei lançou um relógio inteligente com um par de fones de ouvido dentro dele. E participei do Podcast Canaltech falando sobre a dificuldade da Apple reduzir a dependência de fábricas na China.

E o desespero de Elon Musk para fazer do Twitter uma plataforma rentável à todo custo continua. Na newsletter Platformer, Zoe Shiffer e Casey Newton revelam que a empresa quer propaganda personalizada, e para isso poderia forçar usuários a compartilharem sua localização, permitir o compartilhamento de dados com empresas parceiras e até mesmo utilizar número de telefoto obtido pela autenticação de dois fatores para direcionar propaganda. Precisamos urgentemente de uma alternativa ao Twitter.


Eixo Y: o futuro é dobrável?

Acho que poucas vezes escrevi tanto sobre celulares e produtos com display flexível como na última semana. Tivemos rumores sobre um MacBook com tela dobrável, a linha Oppo Find N2 ganhou data de anúncio, o Google Pixel Fold teve mais detalhes vazados, informações antecipadas revelaram novidades sobre o Galaxy Z Flip 5 e, finalmente, vimos rumores relacionados ao Honor 80 Pocket.

Há três anos, no finalzinho de 2019, vimos a Huawei e Samsung competindo pelo início do segmento dos celulares dobráveis. A primeira com um display externo e visual impressionante, a segunda apostando em maior durabilidade para a tela maleável, que dobrava para dentro.

Então vivemos o início da pandemia e tudo mudou. Tivemos que tentar nos adaptar em uma realidade imaginada apenas no entretenimento, e até hoje ainda sofremos com os anos desastrosos que se seguiram.

Primeiro vislumbre do Galaxy Fold em novembro de 2018 | Samsung

Após um início interessante, passamos por 2020 e 2021 com apenas uma empresa se destacando entre os dobráveis: a Samsung e sua cada vez mais refinada linha Galaxy Z. Hoje, no fim de 2022, a empresa domina o segmento e é praticamente a única referência. Mas não deve durar muito.

A hegemonia do Galaxy Z Fold está sendo ameaçada aos poucos. Xiaomi e Huawei já possuem seus (literalmente) grandes competidores na China, a Oppo apresentará amanhã o sucessor do compacto Find N, e o Google trabalha no Pixel Fold com tela que dobra para dentro e dimensões reduzidas para fácil uso da tela externa.

Com uma maior possibilidade de escolha, talvez os consumidores entendam que celulares dobráveis não precisam ter uma gigantesca tela externa e um display interno ainda maior. Basta uma tela confortável para uso rápido do lado de fora e, dentro, uma tela ampla o suficientemente para realizar mais tarefas. Isso na minha visão.

Celulares dobráveis estão se tornando excelentes, mas chegada da Apple ao segmento pode representar uma mudança brusca para a categoria | Apple

E embora o futuro seja desconhecido, a Apple pode ter um grande impacto no avanço da categoria. A empresa sempre foi conhecida por desenvolver produtos sólidos que não são os primeiros do segmento, mas têm a capacidade de mudar a competição após sua estreia. Foi assim com o iPod, foi assim com o iPhone, foi assim com o iPad. Eles não foram os primeiros, mas moldaram o futuro pela implementação e ecossistema embarcado. E pode ser assim com os dobráveis.

A empresa definitivamente trabalha em um iPhone dobrável, e pode muito bem expandir a ideia para um iPad e até um MacBook com tela flexível. Mas será que a tela dobrável é sinônimo de futuro? Em parte, acho que sim.

Atualmente, um dos principais problemas destes dispositivos está justamente na tela. O plástico maleável é extremamente fácil de danificar mesmo com a unha do dedo. Temperaturas de extremo frio impedem que o produto seja aberto ou fechado, e o calor excessivo pode causar distorções irreversíveis no painel de plástico. Com o tempo, os painéis dobráveis tendem a se desgastar naturalmente.

A tecnologia de telas dobráveis é impressionante a pode garantir dispositivos inventivos com o passar dos anos, mas sua durabilidade precisa avançar o mais rápido possível. E por isso a Apple entrar na categoria pode significar mais do que um simples competidor para os dobráveis atuais.

Primeiro que a empresa não vai aceitar um desastre como o que a Samsung enfrentou nas unidades de análise do Galaxy Z Fold, precisando repensar o desenho do produto e da embalagem para facilitar o entendimento para os consumidores. E a Apple também não estaria disposta a repetir o fracasso de anunciar um produto inacabado e nunca mais falar sobre ele (neste caso, o AirPower de 2017).

Telas dobráveis possuem múltiplas usabilidades | The Verge

Já vimos a LG lançar uma TV OLED que se desenrola e que é capaz de mudar de aspecto dependendo do conteúdo assistido. A empresa também confirmou o desenvolvimento de um celular com o mesmo mecanismo para a tela maleável, mas dias depois a divisão de smartphones da LG foi encerrada. O projeto não avançou, mas há rumores que outras fabricantes — incluindo a Samsung — trabalham em alternativas semelhantes para evitar o abre e fecha das telas.

Temos conceitos de celulares em formato de Z divididos em três segmentos de tela, ideias de dispositivos com dobradiça em 360 graus que faz a tela interna se transformar em tela externa, notebooks com um único display em todo seu interior e até mesmo um caríssimo monitor que ajusta sua curvatura com base no gosto dos usuários.

O uso para as telas dobráveis pode ser limitado, mas ainda é inúmeras vezes maior que os celulares tradicionais que estamos acostumados há quase duas décadas. Está na hora de mudar.

Se essa será uma moda tão passageira quanto levar a tecnologia 3D para celulares e TVs como vimos a uma década atrás, é impossível saber. Mas se bem utilizada as telas dobráveis podem caminhar não apenas ao lado de produtos eletrônicos, como também integrados a eles, ultrapassando a fronteira dos celulares e chegando em relógios, tablets, notebooks, relógios e sabe-se lá mais o que.


Eixo Z: para ler, ver e ouvir.

Para as recomendações da semana falarei sobre um dos pouquíssimos livros que li este ano (e que me fisgou do começo ao fim), sobre uma série contemplativa que sempre vai ter espaço no meu coração e sobre um álbum recente que mais pessoas precisam descobrir.

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Para lerAniquilação, 2014. Original Netflix.

Escrito por Jeff VanderMeer, o livro foi adaptado pelo meu queridinho Alex Garland como o segundo filme da sua carreira em 2018, após a excelente estreia na direção de Ex_Machina em 2015.

Tanto o filme quanto o livro falam sobre a Área X, um local isolado por um evento desconhecido que alterou o bioma da região. Expedições militares para tentar entender o fenômeno não surtiram efeito, e um time composto por mulheres cientistas é enviado como nova tentativa para entender o fenômeno e o que se passa lá dentro.

Depois de ver e rever o filme várias vezes nos últimos anos, finalmente comecei o livro e me surpreendi com a quantidade de alterações feitas na adaptação de Garland. Para minha surpresa, uma não supera a outra. Ambas são extremamente imaginativas e dispõem de grande personalidade em cada mídia.

Mesmo tendo assistido primeiro ao filme, a experiência de ler foi muito interessante: a atmosfera estranha ainda está ali, mas as personagens são diferentes, as situações são outras e mesmo os ambientes sendo parecidos, ainda são utilizados de formas variadas e inesperadas.

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Para verTales from the Loop, 2020. Original Amazon Prime Video.

Uma das séries mais intimistas, contemplativas e sensíveis dos últimos anos. Contos do Loop nos apresenta a personagens inesquecíveis em acontecimentos quase inexplicáveis.

Graças à construção de um acelerador de partículas conhecido como Loop, a realidade de uma pequena cidade é alterada e eventos estranhos acontecem o tempo todo graças a essa ruptura. Uma garota que perde sua casa, amigos que trocam de corpo, um casal que para no tempo, um avô que vê o tempo passar.

As histórias de Tales from the Loop são muito sensíveis e a série se permite ser “arrastada”. Uso a palavra entre aspas porque, na semana de estreia, foi o que senti ao assistir. Então notei que havia algo especial, mas que não estava no momento para aproveitar do jeito certo. Voltei depois de quase três meses, e aquele sim era o momento certo.

Me emocionei em cada episódio, e fiquei desolado em dois, com aquela sensação de que há uma maçã presa na garganta já no episódio quatro e de forma ainda pior no episódio oito, o último.

Não vale a pena eu ficar contando muito sobre Contos do Loop, então só digo para assistir. É uma das melhores produções do Prime Video.

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Para ouvirHa Ha Heartbreak de Warhaus, 2022.

Foi pesquisando para escrever esta introdução ao álbum Ha Ha Heartbreak, de Warhaus, que descobri que este é um projeto solo do belga Maarten Devoldere, vocalista da banda Balthazar, dona de álbuns de indie rock sólidos do começo ao fim, incluindo Rats de 2012, Fever de 2019 e Sand de 2021. Não sei dizer qual o meu favorito entre eles (talvez Fever).

Tinha notado a familiaridade entre Balthazar e Warhaus, mas não associei a voz aos projetos. E agora faz todo sentido. Deve ser por isso que Ha Ha Heartbreak me soou estranhamente familiar e nostálgico desde a primeira vez que ouvi.

O novo álbum de Devoldere é saboroso e sedutor. Dá pra sentir o cheiro de cigarro no ar enquanto ouço faixas como When I Am With YouI’ll Miss You Baby e a poderosíssima Batteries & Toys com o vocal indescritível acompanhado da melodia arrasadora e uma letra que só um coração despedaçado poderia compor.

Se gostar, aproveite para descobrir a discografia de Devoldere, tanto em Balthazar quanto em Warhaus.


E chegamos ao fim da primeira edição da minha newsletter. Tenho a sensação de que tenha ficado desnecessariamente longa, um pouco rasa e um tanto apressada em determinados momentos, mas este é um projeto em evolução e já é uma realização enorme para mim mesmo ter concluído a primeira semana.

Lembre-se: você pode comentar as publicações da Nos Eixos também por e-mail, só responder à publicação. Até a próxima terça!

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