iPad Pro M1 (2021): não é um computador

Quando comprei o iPad Pro (M1) perto do meu aniversário em novembro de 2021 sabia que estava entrando em ambiente espinhoso. Eu já conhecia as grandes capacidades do dispositivo, seus diferenciais e todas as suas várias limitações, mas eu ainda assim buscava um dispositivo versátil o bastante para servir como tablet em determinados momentos e como notebook em outros — desde sempre vi a Magic Keyboard atrelada ao iPad Pro, e comprei ambos de uma vez.

E após mais de um ano utilizando o iPad Pro no meu dia a dia, seja para ler, escrever, jogar, assistir, ouvir músicas, pesquisar e trabalhar, sei que ele ainda não supre completamente as minhas necessidades, e mesmo sendo um dos melhores produtos eletrônicos que já usei até agora, também é o mais complicado de recomendar.

A minha edição do iPad Pro tem tela de 11 polegadas com processador M1 e 128 GB de armazenamento. E esta é minha análise — e despedida.

Tela e tamanho

A tela de 11 polegadas é de excelente qualidade, com definição mais que o suficiente para pixels imperceptíveis, cores extremamente precisas, zero vazamentos de luz nas bordas e, ao menos para mim, um tamanho no limite do confortável.

Não me vejo usando um iPad Pro de 12,9 polegadas. O tamanho é exagerado e há informação demais na tela. Sem falar que imagino não ser prático utilizá-lo como tablet devido ao peso superior e dimensões desengonçadas. Fico com o de 11 polegadas, embora meu próximo iPad possa ser um iPad mini.

Infelizmente a Apple continua usando a tecnologia Mini LED apenas no iPad Pro de 12,9 polegadas. Esse tipo de painel é composto por milhares de zonas de iluminação que controlam grupos de pixel mais precisamente, o que resulta em pretos mais escuros e alto contraste semelhantes ao encontrado no OLED, mas com benefício do alto nível de brilho do painel de LED.

Para mim, que já tive contato com telas OLED e sei da beleza extrema do painel, sinto falta do altíssimo contraste e do preto definitivo ao assistir filmes e séries mas não vejo isso como um grande empecilho capaz de arruinar a experiência. Pode ser chato de vez em quando, mas não acontecerá toda hora do dia.

Apenas as telas do iPad Pro possuem tecnologia ProMotion para taxa de atualização de 120 Hz. Isso significa que a tela é atualizada 120 vezes por segundo em vez das tradicionais 60 vezes por segundo, o que resulta em maior fluidez na navegação, em animações e em jogos. Quando uso com meu grande monitor LG 4K de 32 polegadas percebo imediatamente a gigantesca diferença entre ambas as telas — não só porque o iPad possui a melhor qualidade, como também sua taxa de atualização proporciona um conforto que, à primeira vista, parece não existir, mas que fica difícil de desapegar quando você volta para uma tela grande sem os 120 Hz.

Em relação ao tamanho: tenho mãos grandes e por isso nunca tive grandes complicações para usar o iPad Pro de 11 polegadas como tablet. Ele é leve, é fino, e as laterais retas facilitam muito a usabilidade mesmo o corpo de metal bastante escorregadio. Como disse antes: para mim, a tela de 11 polegadas é o limite para um tablet. Acima disso acredito que sentiria desconforto durante o uso no dia a dia.

Antes de comprá-lo tive a chance de usar um pouco no shopping junto com o Magic Keyboard e sabia que este combo em 11 polegadas era exatamente o que eu queria — embora não muito o que eu precisava. Mas vamos por partes.

Com todo o poder do M1

O iPad Pro é surpreendentemente fino, e quando eu lembro que ele é equipado pelo M1 fico ainda mais impressionado. Este chip é o primeiro processador proprietário da Apple para Macs. Ele foi anunciado no fim de 2020 e equipou computadores como o Mac Mini, o MacBook Pro de 13” e o MacBook Air, além de ter sido portado para o iMac de 24” alguns meses depois e, finalmente, ter chegado ao iPad Pro e ao iPad Air.

E se não tenho muito o que reclamar da tela, tenho ainda menos o que reclamar do poder de processamento. Todas as tarefas do iPad são feitas instantaneamente, sem lag ou atraso e sem exagerados períodos de espera.

Sou uma pessoa que não gosta de jogar muito no iPad, então acabo ficando em jogos casuais ou, no máximo indies como Dead Cells, Hyper Light Drifter, Horizon Chase, GRIS e South of the Circle.

Em todos eles e vários outros nunca notei desempenho prejudicado, nem precisei esperar muito em telas de carregamento e não encontrei defeitos de processamento de imagem. Todos rodam muito bem e sem engasgos.

E mesmo se você tentar levar isso daqui ao limite com os jogos mais poderosos que existem no iPadOS, você ficará satisfeito com os ótimos gráficos sem travamentos.

Embora eu não esteja produzindo longos vídeos para YouTube, sei que o M1 do iPad Pro é completamente capaz de lidar com produção de vídeo por acompanhar produtores que usam apenas o iPad Pro em seu trabalho. Já editei alguns vídeos mais trabalhosos no CapCut e a velocidade e agilidade do processamento é impressionante para um dispositivo tão fino.

E, por incrível que pareça, também não tive problemas em relação aos 128 GB de armazenamento. Mesmo baixando vários jogos, filmes e mantendo muitos álbuns e playlists de músicas no iPad, nunca chegou perto de ficar lotado — parte também por eu assinar o iCloud+ para mais armazenamento em nuvem.

Bateria

Sempre me surpreendi muito com a bateria do iPad. Meu dia a dia não é do mais exigente, então costumo deixá-lo ao lado da minha mesa de trabalho para uso pessoal já que o notebook que uso é empresarial.

Assim, controlo música para meus dois HomePod mini, acesso o Twitter, vejo vídeos no YouTube e navego bastante pela internet, seja para reunir informações para a newsletter ou apenas para me manter atualizado sobre os temas mais variados.

Nesse cenário, mesmo com mais de um ano já tendo o iPad, o tempo de tela me atende muito bem e eu geralmente só preciso recarregar uma vez por dia. Quando deixo o brilho no máximo e assisto muitos vídeos, vejo um filme ou maratono uma séria, há sim necessidade para recarregar mais cedo no dia.

Durante os fins de semana costumo retirar o meu teclado da mesa, conectar o iPad Pro ao meu monitor via USB-C (que transmite imagem, som e energia) e uso ele assim durante o fim da sexta, o sábado e o domingo. Por estar sempre conectado à energia pelo monitor, não tenho como medir sua duração de bateria.

Em casos excepcionais, como quando prefiro ficar na cama escrevendo um texto (como faço agora com essa análise), assistindo ou jogando algo, ou apenas ouvindo música, simplesmente não me preocupo de forma alguma com a bateria do iPad mesmo depois de tanto tempo.

Os pequenos detalhes

Uso bastante o iPad sem fones de ouvido, então posso garantir que os alto-falantes são excelentes para tudo no dia a dia, seja em aplicativos de streaming, jogos ou música e podcast. O Áudio Espacial da Apple cria uma separação impressionante dos canais de áudio nas quatro saídas de som e de fato preenche os ouvidos, mesmo sem alto-falantes frontais.

Eu praticamente não uso as câmeras do iPad, mas a qualidade de todas elas são ótimas para o produto, tanto as duas traseiras de 12 MP quanto a frontal ultrawide, que você deve usar mais em chamadas de vídeo.

Para isso, a Apple implementa o Palco Central, que te mantém em quadro mesmo enquanto você se move pelo ambiente. Mas o posicionamento da câmera frontal é péssimo e te deixa em um ângulo horrível por estar na borda lateral.

Sem dúvida o Face ID é minha comodidade favorita do iPad Pro. É extremamente prático e conveniente tocar na tela e desbloquear o sistema instantaneamente em um arrastar para cima idêntico ao do iPhone. Jamais substituiria isso pelo leitor de impressões digitais na tela ou na lateral (como é, este último, em iPad mais baratos).

Há também a caneta stylus genérica que comprei como alternativa à Apple Pencil por dois motivos. O primeiro: criar um hábito de escrever um diário (sem sucesso). O segundo: a Apple Pencil de segunda geração é cara e não vejo motivo para investir tanto em algo que não vou usar muito.

Ainda assim, se seu objetivo é desenhar ou escrever bastante, acredito que funções exclusivas como os diferentes ângulos de escrita, o toque duplo para atalhos e os vários níveis de pressão sejam essenciais para uma melhor experiência.

O Magic Keyboard

Como eu disse no começo, sempre me vi usando o iPad Pro com o Magic Keyboard atrelado a ele. Para mim, os dois dispositivos eram praticamente um só. E ainda continuo achando isso.

O iPad Pro se transforma completamente com o uso do ótimo teclado dedicado e um trackpad preciso e responsivo. É mais fácil de digitar, é mais fácil de utilizar no dia a dia e, claro, sua beleza é imprescindível e incomparável.

Apesar do tamanho bastante compacto, algumas teclas de tamanho reduzido (todas elas nas extremidades laterais) e a falta de uma linha de função para controle de brilho, volume e controle de música, acredito que o Magic Keyboard é o acessório definitivo para o iPad Pro.

As teclas têm excelente espaçamento, boa distância de clique e retroiluminação integrada para facilitar a visualização à noite ou em ambientes escuros.

Mas nem tudo são flores. Já esperava um desgaste do material das telas e do trackpad, que perdem o efeito fosco e se tornam mais brilhantes com o tempo, mas isso veio muito mais cedo do que eu imaginava, questão de alguns poucos meses em que eu passei a utilizar ainda mais o teclado. Isso me decepcionou.

O material emborrachado também resultou em algumas manchas e arranhões fixos na região onde o iPad é fixado magneticamente (onde seria a tampa de um notebook convencional) e na sua base, que está sempre em contato com superfícies. Por isso, é extremamente importante limpar bem o ambiente antes de colocar o teclado na mesa e, ainda mais, evitar arrastá-lo de um lado para outro sem preocupação.

Eu deveria ter comprado um pacote de adesivos para evitar tais problemas, e me arrependo de não ter feito isso antes.

Finalmente, o preço é o verdadeiro problema do Magic Keyboard. Não tive dó do dinheiro que juntei para adquirir o combo (iPad + teclado), já que sabia o que iria me aguardar e, na época, preferia ele a qualquer MacBook. Hoje minha visão mudou, ma ainda não me arrependo da compra.

Assim, caso você encontre um Magic Keyboard usado com preço na faixa dos R$ 1.400, vai fazer uma viagem para fora do Brasil ou tenha algum contato para importar, fica um pouco menos difícil de sugerir a compra.

O iPadOS e o Stage Manager

Quando comprei o iPad Pro ainda no fim de 2021 seu sistema operacional estava na edição de número 15. Poucos meses depois a Apple anunciou o iPadOS 16, que trouxe uma grande novidade: o Stage Manager (ou Organizador Visual como a Apple chama no iPad, o recurso no Mac é traduzido para Gerente de Palco). E é aqui onde as coisas começam a ficar complicadas.

Antes, vamos falar de coisa boa. O iPadOS é ótimo. Aliado ao rápido chip M1 e à tela ProMotion com 120 Hz, o sistema operacional voa e entrega a melhor experiência de software que já tive em um dispositivo.

O modo de divisão de tela (dois aplicativos lado a lado + Slide Over, que deixa um app flutuando por vez) pode ser limitado para algumas pessoas que gostariam de pelo menos mais um aplicativo lado a lado, mas para mim funcionam muito bem.

A biblioteca de aplicativos e jogos é a mais completa que existe em um tablet, assim como a qualidade de conteúdo presente na App Store.

Monitor externo com Stage Manager e várias janelas abertas ao mesmo tempo.
Tela do iPad Pro, ao mesmo tempo, com mais janelas e outras em segundo plano.

Disponível em poucos modelos de iPad (aqueles com chip A12Z, A12X, M1 e M2), o Stage Manager leva janelas ao sistema operacional para tablets da Apple, mas faz isso de forma apressada, uma vez que este é um recurso complexo que demandaria ainda mais desenvolvimento para que os usuários tenham a melhor experiência. E apesar desta ser uma prioridade para Apple, não é o que acontece.

O Stage Manager é uma boa ideia com muitas falhas em sua execução. Além do limite de dispositivos com suporte ao recurso, há também o limite de janelas por tela: são quatro no iPad e quatro em um monitor externo, totalizando oito janelas ao todo. Se você abrir um quinto aplicativo ou janela, as quatro movem para a lateral e o novo aplicativo é aberto isolado.

Na lateral esquerda ficam os grupos de aplicativos, e essa é uma das boas ideias. Você pode organizar apps por tema, unindo Notas, Músicas e Safari em um grupo, por exemplo, Calendário, Mapas, Safari e Galeria em outro, Mail, Mensagens e Apresentações em mais uma e por assim vai. As possibilidades são várias, e isso é útil.

Uma quase boa ideia, na minha opinião, está para a grade invisível que alinha as janelas de forma pré-determinada. Você não pode redimensionar as janelas como você bem quiser como faz no Windows e Mac; elas se fixam em posições existentes e que, felizmente, permite uma grande variedade de combinações.

Mas ainda existem muitos problemas. Ocasionalmente o Stage Manager é desativado sem motivo aparente, com todas as janelas sumindo da tela e sendo necessário puxar as janelas de volta pela multitarefa. Às vezes, quando deixo o iPad ligado e saio por determinado tempo, noto que pelo menos um dos aplicativos congelou, sendo necessário fechar e abrir de novo para fazê-lo funcionar. Toda vez que eu puxo um aplicativo da dock ou da biblioteca para a tela, ele abra de forma desalinhada, ou muito para baixo do monitor ou muito pra cima.

E uma das coisas que mais me irritam é a impossibilidade de abrir uma nova instância do mesmo aplicativo na outra tela. Por exemplo: se o Safari está aberto com uma janela no monitor, posso arrastar o ícone da dock para o monitor e abrir uma segunda janela no monitor. Mas não posso fazer o mesmo no iPad, não é possível pegar o ícone do Safari na dock do iPad e arrastá-lo para a tela para abrir uma nova janela. E se eu apenas tocar no ícone, todas as janelas do aplicativo abertas no monitor são transferidas para o iPad. Uma experiência muito diferente da que todos estamos acostumados em sistemas operacionais para notebook e desktop, e que precisa ser corrigida em uma próxima atualização.

O Stage Manager tem sim boas ideias e foi capaz de otimizar meu tempo e trabalho enquanto escrevo análises e textos para a Nos Eixos ou para o Eixo XYZ. E eu gosto da ideia, do visual simples e de como as janelas alinham automaticamente em uma grade invisível, mas sua experiência ainda é incompleta e deve precisar de pelo menos duas grandes atualizações para que realmente possa transformá-lo em algo que já deveria ter sido em seu lançamento.

Conclusão

A Apple sempre esteve certa quando promovia o iPad Pro com o então recém-lançado Magic Keyboard: não é um computador.

O iPad Pro com M1 é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores produtos que eu já tive na vida e que eu também mais aproveitei. Há necessidade para entender suas limitações e fazer comprometimentos para poder utilizá-lo no dia a dia, mas seu alto desempenho, grande integração com o ecossistema da Apple e bateria de longa duração, além da usabilidade expandida com o caro Magic Keyboard e o Stage Manager transformam o modo de usar o tablet.

Se você não for um usuário exigente que busque um dispositivo extremamente bonito para se destacar na multidão para navegar na internet, escrever e consumir mídia, o iPad Pro com Magic Keyboard é sem dúvida a melhor escolha.

Se você quer o iPad Pro para ilustração ou escrita, o investimento é muito válido e a compra da Apple Pencil 2 também é necessária, embora no seu caso o Magic Keyboard seja quase que totalmente dispensável.

Finalmente, o iPadOS tem a garantia de que você vai encontrar um aplicativo ideal para realizar seus trabalhos ou estudos. Além de anos e anos de atualizações para futuros sistemas e recursos exclusivos para modelos com M1.

Mas se você ainda depende de programas específicos de Mac ou Windows e não encontra as opções portadas para o iPadOS nem mesmo alternativas válidas, então continue com um desktop ou notebook para evitar frustrações e arrependimentos.

Atualmente a Apple não comercializa mais o iPad Pro com M1 já que a versão mais recente tem chip M2. Mas você ainda pode adquirir o modelo de geração anterior usado em fóruns de venda ou sites como MercadoLivre e OLX.

Ao meu ver, um preço justo para um iPad Pro (11” com M1 e de 128 GB) usado seria de R$ 5 mil. Mais do que isso não tenho como recomendar. Mas já vi modelos de 256 GB sendo vendidos por R$ 5.500, o que é muito interessante.

No fim, continuo não me arrependendo da compra de forma alguma, mas entendo que minhas necessidades mudaram atualmente e que o iPad Pro não entrega mais o que eu necessito atualmente. Mas se eu pudesse, escolheria mantê-lo comigo o máximo de tempo possível. O que não é o caso. Talvez em uma futura geração.